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" - A guerra
está instaurada – a voz dele retumbou pela sala – não há o que ser feito.
Nossos homens irão nos proteger, não se preocupem.
“Nossos
homens irão nos proteger, não se preocupem”. A frase reverberou. Eu
imediatamente encarei Enzo que me olhava com a mesma intensidade. A tradução da
frase para mim era simples... e eu preferia não dizê-la em voz alta."
Capítulo
IV
Enzo foi
para a guerra. Meus pais nunca desconfiaram que fugiríamos ou mesmo sobre nosso
amor. Anos passaram desde aquela fatídica festa e tudo estava mudado em minha
cidade... Tudo parecia mais morto do que realmente foi um dia.
Algoz
morreu em setembro. Sophia casou-se em outubro. Tentaram conseguir um casamento
para mim, mas recusei com todas as desculpas que pude inventar. A dor era
tamanha que todos os dias acordava chorando a separação de meu amado e
esperando pela notícia do retorno dele... Era apenas por isso que me mantinha
viva.
Mas foi em
novembro que eu acordei de um modo diferente. Era noite e o clima abafado me
fez perder o ar. Levantei da cama meio cambaleante, tateando as paredes e
sentindo uma vontade imensa de respirar fora das paredes da casa. Desci as
escadas e abri a porta de entrada de forma afoita e desesperada, lutando para
puxar mais ar. Vi a noite e a brisa me chicotearem com uma sensação que havia
esquecido no dia em que vi Enzo partir.
- Não é
muito tarde para estar acordada, senhorita?
A voz dele
me atacou. O tom desdenhoso e desafiante de sempre estavam lá. Virei-me para o
lado e o vi sentado no balanço da varanda. Andei cautelosa, algo em mim
duvidava e algo em mim ansiava por ele. E não sabia a qual impulso ceder.
Sentei-me ao lado dele duvidando da minha sanidade e então lágrimas começaram a
escorrer por meu rosto.
- Sabe o
que eu mais acho incrível em você?
Acenei em
negativa com a cabeça enquanto chorava e soluçava.
- Você
entende antes mesmo das palavras serem ditas.
É verdade.
Eu entendia. Eu entendia a minha urgência para sair de casa e vê-lo, o meu
desejo por encontra-lo sendo maior que eu mesma, o sorriso que não desbotava no
rosto dele e principalmente a farda suja de sangue que ele ainda vestia.
- Quando
aconteceu? – perguntei com a garganta doendo tanto quanto o coração.
- Hoje
pela manhã.
- Como?
- É
realmente importante?
Neguei com
um aceno e escondi meu rosto nas mãos, enquanto chorava copiosamente. Enzo
tomou-me os mãos entre as dele, essas geladas de um modo que não me incomodava,
e pediu-me:
- Não se
esconda mais.
- Eu nunca
me escondi de ti, mas não pode me pedir isso quando...
- Não
Katarina, não se esconda mais do mundo.
Meu
coração parou um compasso, me aproximei dele um pouco e deitei-me em seu ombro.
Senti-lo era tudo o que eu queria, era tudo o que precisava.
- O que
veio fazer aqui, Enzo?
Ele
levantou-se e segurando minha mão andamos pela fazenda a noite. Algoz estava
parado um pouco mais adiante, nos esperando. Abracei-o apertado e chorei mais
um pouco. Enzo me ajudou a montá-lo e senti-me novamente plena com meu amado e
meu cavalo e partimos a correr pelos campos.
A
liberdade me perpassava, se entranhava em parte que eu mesma não sabia que
existiam mais. Cada fio de cabelo, cada músculo ou veia, em mim ela era
presente e intensa rompendo as barreiras que criei no decorrer dos últimos
anos. Paramos em algum ponto entre árvores. Descemos. Enzo deitou-se na grama e
eu deitei-me sobre seu peito.
- Eu quero
você, Enzo. – disse em voz baixa próxima ao lábio dele.
- Eu nunca
vou deixa-la.
Beijei-o e
adormeci sentindo a completude dele.
Fui
acordada deitada no balanço da varanda. Guilherme me sorria ternamente enquanto
me levava para dentro da casa, meus pais dormiam ainda. Semanas depois soube do
falecimento de Enzo. Mas daquele dia em diante não me permiti esquecê-lo e nem
me esquecer... Sabendo-me plena com ele perto de mim.
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