domingo, 6 de agosto de 2017

Nem toda história de amor... 4

Capítulo anterior: https://goo.gl/thjUMD

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"        - A guerra está instaurada – a voz dele retumbou pela sala – não há o que ser feito. Nossos homens irão nos proteger, não se preocupem.
        “Nossos homens irão nos proteger, não se preocupem”. A frase reverberou. Eu imediatamente encarei Enzo que me olhava com a mesma intensidade. A tradução da frase para mim era simples... e eu preferia não dizê-la em voz alta."        

Capítulo IV


        Enzo foi para a guerra. Meus pais nunca desconfiaram que fugiríamos ou mesmo sobre nosso amor. Anos passaram desde aquela fatídica festa e tudo estava mudado em minha cidade... Tudo parecia mais morto do que realmente foi um dia.
        Algoz morreu em setembro. Sophia casou-se em outubro. Tentaram conseguir um casamento para mim, mas recusei com todas as desculpas que pude inventar. A dor era tamanha que todos os dias acordava chorando a separação de meu amado e esperando pela notícia do retorno dele... Era apenas por isso que me mantinha viva.
        Mas foi em novembro que eu acordei de um modo diferente. Era noite e o clima abafado me fez perder o ar. Levantei da cama meio cambaleante, tateando as paredes e sentindo uma vontade imensa de respirar fora das paredes da casa. Desci as escadas e abri a porta de entrada de forma afoita e desesperada, lutando para puxar mais ar. Vi a noite e a brisa me chicotearem com uma sensação que havia esquecido no dia em que vi Enzo partir.
        - Não é muito tarde para estar acordada, senhorita?
        A voz dele me atacou. O tom desdenhoso e desafiante de sempre estavam lá. Virei-me para o lado e o vi sentado no balanço da varanda. Andei cautelosa, algo em mim duvidava e algo em mim ansiava por ele. E não sabia a qual impulso ceder. Sentei-me ao lado dele duvidando da minha sanidade e então lágrimas começaram a escorrer por meu rosto.
        - Sabe o que eu mais acho incrível em você?
        Acenei em negativa com a cabeça enquanto chorava e soluçava.
        - Você entende antes mesmo das palavras serem ditas.
        É verdade. Eu entendia. Eu entendia a minha urgência para sair de casa e vê-lo, o meu desejo por encontra-lo sendo maior que eu mesma, o sorriso que não desbotava no rosto dele e principalmente a farda suja de sangue que ele ainda vestia.
        - Quando aconteceu? – perguntei com a garganta doendo tanto quanto o coração.
        - Hoje pela manhã.
        - Como?
        - É realmente importante?
        Neguei com um aceno e escondi meu rosto nas mãos, enquanto chorava copiosamente. Enzo tomou-me os mãos entre as dele, essas geladas de um modo que não me incomodava, e pediu-me:
        - Não se esconda mais.
        - Eu nunca me escondi de ti, mas não pode me pedir isso quando...
        - Não Katarina, não se esconda mais do mundo.
        Meu coração parou um compasso, me aproximei dele um pouco e deitei-me em seu ombro. Senti-lo era tudo o que eu queria, era tudo o que precisava.
        - O que veio fazer aqui, Enzo?
        Ele levantou-se e segurando minha mão andamos pela fazenda a noite. Algoz estava parado um pouco mais adiante, nos esperando. Abracei-o apertado e chorei mais um pouco. Enzo me ajudou a montá-lo e senti-me novamente plena com meu amado e meu cavalo e partimos a correr pelos campos.
        A liberdade me perpassava, se entranhava em parte que eu mesma não sabia que existiam mais. Cada fio de cabelo, cada músculo ou veia, em mim ela era presente e intensa rompendo as barreiras que criei no decorrer dos últimos anos. Paramos em algum ponto entre árvores. Descemos. Enzo deitou-se na grama e eu deitei-me sobre seu peito.
        - Eu quero você, Enzo. – disse em voz baixa próxima ao lábio dele.
        - Eu nunca vou deixa-la.
        Beijei-o e adormeci sentindo a completude dele.


        Fui acordada deitada no balanço da varanda. Guilherme me sorria ternamente enquanto me levava para dentro da casa, meus pais dormiam ainda. Semanas depois soube do falecimento de Enzo. Mas daquele dia em diante não me permiti esquecê-lo e nem me esquecer... Sabendo-me plena com ele perto de mim.

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