segunda-feira, 20 de junho de 2016

Quer um café?



          Cruzei minhas pernas. Apertei os lábios em um leve descontentamento. Esperei que ele falasse. E ele falou:
        - Cigarro? – me ofereceu enquanto pegava um, sentado à minha frente. Tinha os olhos azuis, mas isso não era importante.
          - Não fumo – disse, arqueei uma sobrancelha.
          - Não fuma, não bebe, não fode... – ele disse – não é feliz?
        - Veio me entrevistar pra um jornal ou uma revista de adolescentes? – coloquei o pé no chão e troquei, cruzando as pernas novamente.
          - Então, sr. Aleph, vamos começar?
       Apertando o botão do gravador ele me perguntou e contei-lhe minha história.

          Chovia levemente naquela tarde de domingo, e os domingos sempre são um tédio. Sentado num sofá do meu escritório, posição de lótus, lendo um livro e bebendo café, olhava de quando em quando para a janela, tentando relembrar se havia cometido algum erro, dito algo que ofendesse algum amigo, ou aliado. Franzi a testa mordiscando de leve a ponta do meu dedo. Tinha algo que estava deixando passar, talvez uma palavra dita com uma entonação diferente, um tremor na voz... Ouvi patas tocando o assoalho de madeira e olhei para a porta, meu amado e nada sutil lobo atravessava o lugar, rebolando levemente, branco como as cortinas que enfeitavam o lugar, olhos azuis como os do repórter.
     Subiu no sofá, deitou-se com a cabeça sobre minha coxa direita, demandando carinho. Pensei novamente se havia deixado algo escapar enquanto tocava-lhe. Talvez um suspiro mais demorado, ou uma careta. Ouvi o telefone tocar e não me levantei. Tinha algo... algum detalhe que ficou fora do meu controle. Tocou mais e mais, o telefone. Quando parou de exigir minha atenção ele se levantou e trotou para fora do escritório, indo atrás de comida, o lobo. Gritei pelo nome dele, o garoto:
           - Gabriel!
      Em pouco tempo apareceu, vestindo a pequena peça de roupa que demandei. Convidei-o para sentar-se em meu colo, deixei o livro de lado. Talvez na entrevista tivesse deixado escapar um gemido, uma mordida nos meus próprios lábios. Adorava loiros de olhos azuis. E me preocupava com minha reputação, enquanto tocava-lhe a coxa e mordia-lhe o ombro.

          Foi quando ele saiu que entendi a essência do que gostaria de escrever. Quando vi Gabriel caminhar para longe de mim, indo em direção de mais um dia, percebi o que eu queria ler.  Enquanto eu tomava o café encostado no batente da porta, vestindo uma cueca box preta e o esperando atravessar o jardim, atravessar o portão, atravessar meus muros, desparecer...  Suspirando, com o lobo aos meus pés eu pensei: quero escrever sobre os amores. E foi assim.


  Dedico a você, que começou um amor e irá vivenciar o mais sublime dos momentos. Bem vindo às histórias que presenciei. Sinta-se a vontade. Quer um café?


2 comentários:

  1. Quero sim. Vários cafés com você. Sempre muito interessante. Adorei o conto e aguardo ansiosa o quem pela frente.

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    1. Que venham vários cafés então! Obrigado demais e fico feliz que esteja acompanhando <3 beijão

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