Cruzei minhas pernas. Apertei os lábios em um leve descontentamento. Esperei que ele falasse. E ele falou:
-
Cigarro? – me ofereceu enquanto pegava um, sentado à minha frente. Tinha os
olhos azuis, mas isso não era importante.
- Não
fumo – disse, arqueei uma sobrancelha.
- Não
fuma, não bebe, não fode... – ele disse – não é feliz?
- Veio
me entrevistar pra um jornal ou uma revista de adolescentes? – coloquei o
pé no chão e troquei, cruzando as pernas novamente.
-
Então, sr. Aleph, vamos começar?
Apertando
o botão do gravador ele me perguntou e contei-lhe minha história.
Chovia
levemente naquela tarde de domingo, e os domingos sempre são um tédio. Sentado
num sofá do meu escritório, posição de lótus, lendo um livro e bebendo café,
olhava de quando em quando para a janela, tentando relembrar se havia cometido
algum erro, dito algo que ofendesse algum amigo, ou aliado. Franzi a testa
mordiscando de leve a ponta do meu dedo. Tinha algo que estava deixando passar,
talvez uma palavra dita com uma entonação diferente, um tremor na voz... Ouvi
patas tocando o assoalho de madeira e olhei para a porta, meu amado e nada
sutil lobo atravessava o lugar, rebolando levemente, branco como as cortinas
que enfeitavam o lugar, olhos azuis como os do repórter.
Subiu no
sofá, deitou-se com a cabeça sobre minha coxa direita, demandando carinho.
Pensei novamente se havia deixado algo escapar enquanto tocava-lhe. Talvez um
suspiro mais demorado, ou uma careta. Ouvi o telefone tocar e não me levantei.
Tinha algo... algum detalhe que ficou fora do meu controle. Tocou mais e mais,
o telefone. Quando parou de exigir minha atenção ele se levantou e trotou para
fora do escritório, indo atrás de comida, o lobo. Gritei pelo nome dele, o
garoto:
-
Gabriel!
Em
pouco tempo apareceu, vestindo a pequena peça de roupa que demandei. Convidei-o
para sentar-se em meu colo, deixei o livro de lado. Talvez na entrevista
tivesse deixado escapar um gemido, uma mordida nos meus próprios lábios.
Adorava loiros de olhos azuis. E me preocupava com minha reputação, enquanto
tocava-lhe a coxa e mordia-lhe o ombro.
Foi
quando ele saiu que entendi a essência do que gostaria de escrever. Quando vi
Gabriel caminhar para longe de mim, indo em direção de mais um dia, percebi o
que eu queria ler. Enquanto eu tomava o
café encostado no batente da porta, vestindo uma cueca box preta e o esperando
atravessar o jardim, atravessar o portão, atravessar meus muros, desparecer... Suspirando, com o lobo aos meus pés eu pensei:
quero escrever sobre os amores. E foi assim.
Dedico a você, que começou um amor e
irá vivenciar o mais sublime dos momentos. Bem vindo às histórias que
presenciei. Sinta-se a vontade. Quer um café?
Quero sim. Vários cafés com você. Sempre muito interessante. Adorei o conto e aguardo ansiosa o quem pela frente.
ResponderExcluirQue venham vários cafés então! Obrigado demais e fico feliz que esteja acompanhando <3 beijão
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