“ ...E os últimos minutos de vida estão chegando, preparem-se para...”
Ouvi
no noticiário. O mundo talvez não acabasse aqui, mas a humanidade sim. Um
cometa nos atingiria, ou o Sol explodiria... O que importava em um momento
assim? O que não importava? Naquele instante, estava distante demais de
qualquer ser humano, distante demais de familiares para me despedir, para dizer
até logo... por sorte sempre fui daqueles que dizem eu te amo, não deixei
pendências aí.
Então
o que me restava? Abri a geladeira, observei a jarra com água, e provei meus
últimos goles que bebi do gargalo. Colocar a boca na própria garrafa era algo
tão libertador, tão contra os padrões, tão anti-higiênico que se tornava uma
delícia de ser feito nos últimos momentos. Assim como pegar meu estoque de
presunto e queijo, uma caneca grande com café e leite, e levar para a varanda
do apartamento, onde ficaria na mesinha. Coloquei Equalize da Pitty para tocar.
Sentei
no chão. Peguei o livro que estava lendo, meu preferido. Bebi café. Apreciei a
iluminação que aumentava, mesmo sendo noite. Não havia Lua. Era dia, então.
Lembrei o gosto do Natal, da infância, dos passos apressados no intervalo da
escola, do primeiro beijo, da primeira vez, do primeiro encontro, da outra
primeira vez. Pêssego em caldas, cor azul, flor violeta, rosa vermelha, grãos
de feijão, assistir filme com a família reunida. Rei leão. Matilda. Amelie
Poulain. Paramore. Marisa Monte, Marisa Orth, Elis Regina... Maria Rita, Ana
Carolina. Legião Urbana.
Com
a casa cheia de lembranças, com a xícara meio cheia de café, com o coração
pleno em saudade e amor, pude descansar e apreciar o fim do mundo. Pois com a
consciência limpa e a felicidade de ter vivido entre amores... estava em paz.
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