segunda-feira, 11 de julho de 2016

Fim do mundo.




“ ...E os últimos minutos de vida estão chegando, preparem-se para...”

Ouvi no noticiário. O mundo talvez não acabasse aqui, mas a humanidade sim. Um cometa nos atingiria, ou o Sol explodiria... O que importava em um momento assim? O que não importava? Naquele instante, estava distante demais de qualquer ser humano, distante demais de familiares para me despedir, para dizer até logo... por sorte sempre fui daqueles que dizem eu te amo, não deixei pendências aí.
Então o que me restava? Abri a geladeira, observei a jarra com água, e provei meus últimos goles que bebi do gargalo. Colocar a boca na própria garrafa era algo tão libertador, tão contra os padrões, tão anti-higiênico que se tornava uma delícia de ser feito nos últimos momentos. Assim como pegar meu estoque de presunto e queijo, uma caneca grande com café e leite, e levar para a varanda do apartamento, onde ficaria na mesinha. Coloquei Equalize da Pitty para tocar.
Sentei no chão. Peguei o livro que estava lendo, meu preferido. Bebi café. Apreciei a iluminação que aumentava, mesmo sendo noite. Não havia Lua. Era dia, então. Lembrei o gosto do Natal, da infância, dos passos apressados no intervalo da escola, do primeiro beijo, da primeira vez, do primeiro encontro, da outra primeira vez. Pêssego em caldas, cor azul, flor violeta, rosa vermelha, grãos de feijão, assistir filme com a família reunida. Rei leão. Matilda. Amelie Poulain. Paramore. Marisa Monte, Marisa Orth, Elis Regina... Maria Rita, Ana Carolina. Legião Urbana.

Com a casa cheia de lembranças, com a xícara meio cheia de café, com o coração pleno em saudade e amor, pude descansar e apreciar o fim do mundo. Pois com a consciência limpa e a felicidade de ter vivido entre amores... estava em paz. 

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