segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Talvez o amor seja um tipo de comida.

Capítulo I (Anterior): https://teunomeeamor.blogspot.com.br/2016/12/talvez-o-amor-seja-um-tipo-de-comida-1.html

        
Capítulo II – Quem sabe o amor não é vinho?

        Bem, depois do ano novo e da loucura com a tal bruxa, parti em uma viagem de “férias”. Fiz um caminho poético pelo Brasil, desbravando cidades pequenas no interior do Nordeste. Descobri pessoas interessantes, conheci novas religiões, ainda que não fosse religioso. Sabiam que algumas cidades inclusive existem lendas sobre ciganos? Pois é...
        Mas não me contentei. Algo me chamava, gritava por mim. Ao retornar para o trabalho passei meses remoendo essa necessidade, até que fui demitido por cortes no orçamento da empresa. Estava preocupado? Não. Peguei parte da rescisão e fugi... Fui para um lugar que gostaria muito de conhecer: Gramado.
        Encontrei uma pousada formidável, com cheiro de lavanda, e me deslumbrei com a maciez dos lençóis. A cidade parecia um jardim gigantesco, repleto de cores e sensações térmicas exageradas. Fazia frio, e ao mesmo tempo era aconchegante andar com casacos e jaquetas, sem medo ou preocupações.
        Me dei duas semanas. Eu merecia duas semanas longe de tudo, com meus projetos pessoais rodopiando a minha frente, sem medo de ter meus sonhos descobertos.
        Foi num desses passeios aleatórios, em uma vinícola, entre uma taça de vinho e outra que conheci Mira. Ela era um pouco mais nova que eu, com seus cabelos roxos e azuis, e parecia sorrir para o vento facilmente. Era meu exato oposto.
        A convidei para comer algo na cidade, um jantar. Ela negou, mas me fez outra proposta. Sendo assim na manhã seguinte nos encontramos em frente a um lago lindo, com direito a pedalinhos e pessoas sorrindo.
        - Obrigado por vir – ela disse.
        - Eu que agradeço sua companhia, estava ficando meio solitário aqui.
        Andamos por um tempo, conversando e entendendo o que cada um buscava ali. Mira procurava esquecer um amor passado, eu buscava saber se existia amor no futuro. Contei a ela sobre a profecia da bruxa, e entre risos agradáveis a garota me perguntou:
        - E então, qual sua melhor qualidade?
        - Er... – pensei bem – acredito que a coragem, eu me lanço quando quero algo.
        - E o maior defeito?
        Paramos, um olhando para o outro. Meu maior defeito era a imensidão que eu guardava em mim, e só pra mim. Gostava de caminhar só, gostava de guardar minhas lembranças em caixinhas minhas, era feliz em mim mesmo.
        - Acho que... acho que eu gosto de fazer o que quero sem pensar em ninguém.
        Ela me sorriu, e continuamos caminhando lado a lado, guardados em nossas introspecções. Então o meu telefone tocou, atendi sem pensar e tudo que consegui distinguir foi: sua mãe está muito doente. Foi o bastante. Adeus Mira, há algo mais que preciso fazer.

        E assim retornei para meu mundo. 

Um comentário:

  1. Se eu fosse distinguir o amor que tenho por tudo, vida, amigos, familia, com o nome de uma bebida. Essa bebida seria uma cachaça nordestina, de tão intensa que é o sabor e o mesmo tempo com alguns amargos que carreguei na vida

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