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"O tempo pareceu parar. Me levantei calmamente, prendi a
respiração, caminhei até ele. Matheus me olhava perdido, sem entender.
Segurei-lhe o rosto com ambas as mãos, me aproximei devagar, e senti a textura
dos lábios dele com os meus. Eram doces, sensíveis e macios.
- Eu não
vou deixar – falei, com a voz rouca, afastando o rosto do dele – essa é a minha
nova vida. Eu não vou deixar um idiota como aquele estraga-la.
- Do que
você...
Ele tentou
falar, mas o interrompi com mais um beijo. Daquela vez e não apenas daquela vez
eu o fiz sentir através de um gesto todo o amor que tinha."
Capítulo
III: Um soco na cara dói menos.
Depois do beijo nada mais foi dito. Matheus me
pediu para me afastar, pois ele havia ficado confuso. Decidi ir pra casa,
afinal ainda não havia nem falado com meus pais. O interessante é que não
estava com medo da amizade mudar, ou de ser rejeitado. Em algum ponto de mim
sabia que tínhamos uma conexão forte. Mas será que poderíamos dar certo? Será
que bastava?
Ainda não
havia contado para ninguém, mas tinha me matriculado em uma disciplina do
semestre adiantado, aquele em que Matheus estaria. Dito e feito, cheguei no
primeiro dia de aula e me sentei ao lado dele, que me sorriu feito bobo, me
abraçou e se disse surpreso.
- Você
sabia que eu ia dar um jeito de fazer pelo menos uma disciplina contigo – eu
falei.
- Eu
sabia, mas não sabia qual – ele disse sorrindo e tive que conter meu impulso de
beijá-lo ali mesmo, na frente da turma.
O
professor entrou em sala e começou a tagarelar sobre a disciplina e os métodos
dele. Meu amigo (amado) era um daqueles que anotavam tudo e prestavam atenção,
e eu, claro, era o contraponto perfeito cutucando e mandando mensagens no meio
da aula fazendo alguma piada ou coisa do tipo.
No
intervalo saímos para lanchar algo na cantina. E chegando lá a surpresa foi ver
o Daniel parado, esperando.
- Você
voltou – ele me disse sem esconder o desgosto.
- Você
também, pelo visto – eu disse com um sorriso sarcástico no rosto.
- Meninos,
vamos lanchar o que? – Matheus perguntou já se afastando, mas ambos ficamos
parados, encarando um ao outro em desafio.
- Eu
definitivamente não gosto de você – disse com toda a raiva que conseguia
reunir.
- Nem eu
de você, garotinho arrogante. – Daniel deu um passo a frente e mesmo os
prováveis 10 cm a mais que ele tinha de altura não me davam medo.
-
Arrogante? Eu? Quem nunca desceu do pedestal aqui é você, Daniel.
- Hey! Que
é isso vocês dois? – Matheus falou voltando pra perto da gente.
- Sabe,
Lucas, eu não gosto da sua amizadezinha com meu namorado.
- E eu não
gosto desse namorico. – então o Daniel deu mais um passo ficando tão perto que
eu podia sentir a respiração alterada.
- Então
estamos falando a verdade? Finalmente.
Ao longe podia ouvir o Matheus tentando
apaziguar a situação. Aquela não era a primeira vez que estávamos beirando um
conflito, e dessa vez eu queria ir até o fim.
- Estamos
sim, e já que estamos... Eu sei que você batia no Matheus, covarde.
Os olhos
dele se arregalaram e os dentes apareceram como um cachorro ameaçando. Matheus
imediatamente colocou a mão no braço do Daniel, sabendo que a qualquer minuto a
situação iria sair do controle.
- Do que
você ta falando?
- Ei, é
melhor vocês dois...
- Cala a
boca Matheus, que porra é essa que ele ta falando? – Daniel interrompeu o
namorado com um safanão no braço.
- Eu...
- Eu vi as
marcas, eu vi como você é covarde ao ponto de bater no próprio namorado –
falei, arqueando meu peito.
- E você é
muito corajoso, né? – Daniel me empurrou contra a parede e pressionou a mão dele
contra o meu peito – se metendo assim na relação dos outros...
- Daniel
para – Matheus tentou falar e foi empurrado, enquanto o namorado apontava o
punho para mim.
- Fala de
novo, viadinho. Fala que eu quero ver – ele disse com os olhos injetados de
ódio.
- Você é
um covarde, que não merece o namorado que tem.
- E você
merece?
- Claro,
eu o amo.
Aquilo
bastou. Um soco certeiro no meu nariz, a voz do Matheus gritando e empurrando o
Daniel, a turma toda que havia se formado perto da gente falando algo que não
escutei direito. Só sei que aquele soco bastou para eu cair no chão.
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