Prévia
“Ao abrir
a porta dei de cara com um cachorro enorme, branco, que pulou em mim tentando
me lamber. Gargalhei, larguei minhas coisas no sofá e comecei a correr com ele
pela sala, brincando e sentindo todo o amor incondicional que me era ofertado.
- Ele
sentiu sua falta – Matheus sussurrou.
Eu o
encarei profundamente. Meu coração disparando. Minha boca secando. E disse:
- E eu
senti a falta dele. – “e a sua” completei mentalmente.
E assim
estava de volta para minha cidade que agora já não era a mesma, e tão pouco eu.
“
Capítulo
II: Respirando sobre as lembranças.
- Onde
está a tia Marta? – perguntei e ele me guiou para o quintal.
Tia Marta,
como eu a chamava carinhosamente, estendia a roupa no final do quintal, quando
me viu e o rosto se encheu de luz. Corri para abraça-la com o Noah (o cachorro
branco do Matheus) em correndo em círculos ao meu redor. Meu amigo ficou
parado, nos fitando de longe.
- Menino
mal criado, como teve coragem de sumir assim? – ela disse em tom de
brincadeira, puxando levemente minha orelha.
- A
senhora sentiu minha falta? – perguntei com um sorriso largo.
- Claro!
Como não iria sentir?
- Lucas! –
Ouvi Matheus gritando por mim.
- Vai lá,
que ele também sentiu sua falta – ela disse piscando marotamente para mim.
- Não mais
que o Noah – eu falei rindo.
- Não mais
que o Noah, com certeza! – e gargalho suavemente, enquanto eu me afastava.
Tia Marta
era definitivamente minha maior shipper com o Matheus. Subi as escadas junto ao
meu amigo, e entramos em seu quarto. Sentei na cama e ele numa cadeira próxima
ao computador. Em poucos segundos estava confortável, como em minha própria
casa.
Pegamos as
rosquinhas e o suco e ficamos conversando sobre tudo. Contei-lhe acerca das
cidades que visitei e de como foi minha estadia na última cidade em que me
estabilizei. Itapajé era pequena e aconchegante, com um clima agradável na
maior parte do tempo. Havia serra por perto e conheci pessoas que me mostraram
com simplicidade a cultivar algumas plantas.
- E você?
O que tem de novo pra contar? – perguntei com a boca cheia de canela e açúcar.
- Aqui ta
no de sempre... A faculdade um tédio, a Katarina continua me atazanando pra
saber o teu telefone...
Eu ri
bastante. Ele me pôs a par das peripécias da graduação. Alguns professores
continuavam a ser insuportáveis, outros pareciam ter mudado bastante pelo o que
me falava. E então algo me passou a mente e perguntei:
- Tudo
continua igual?
Ele me
olhou, baixou o olhar, engoliu em seco. Sabia qual pergunta implícita estava
contida ali. Então respirou fundo e respondeu de uma vez só:
- Voltei
com o Daniel.
Minha vez
de engolir em seco. Matheus começou a falar sem parar coisas que pra mim pouco
importavam. Ele dizia que o ex havia dito que mudou e estava querendo dar o
melhor de si. Daniel foi um dos motivos de eu ter sumido. Não aguentava mais
ver as marcas roxas nos braços do meu amigo e não poder fazer nada.
- Não vai
falar nada? – ele me perguntou com uma cara de desamparado.
O tempo
pareceu parar. Me levantei calmamente, prendi a respiração, caminhei até ele.
Matheus me olhava perdido, sem entender. Segurei-lhe o rosto com ambas as mãos,
me aproximei devagar, e senti a textura dos lábios dele com os meus. Eram
doces, sensíveis e macios.
- Eu não
vou deixar – falei, com a voz rouca, afastando o rosto do dele – essa é a minha
nova vida. Eu não vou deixar um idiota como aquele estraga-la.
- Do que
você...
Ele tentou
falar, mas o interrompi com mais um beijo. Daquela vez e não apenas daquela vez
eu o fiz sentir através de um gesto todo o amor que tinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário