segunda-feira, 3 de abril de 2017

Nem toda história de amor... 1

Capítulo I: ... começa sem um beijo.

                Fazia muito Sol naquela tarde de quarta-feira. Eu estava sentada na varanda, me balançando com o leque na mão, o vestido era pesado e dificultava minha respiração. Foi quando ele chegou, vestido com algo azul claro e tendo o cabelo loiro preso, cavalgando um alazão com um porte imponente e quase arrogante.
        - Bom dia, Katarina! – gritou-me ao se aproximar.
        - Bom dia Enzo.
        - O Sol está de matar, não é mesmo?
        - Talvez.
        - Ainda está brava comigo, senhorita?
        Olhei para o outro lado. Na verdade minha raiva já havia passado, mas ele não precisaria saber disso de prontidão.
        - Desculpa por ter lhe desafiado, jovem... Mas ainda duvido que consiga cavalgar tão bem quanto vosso pai afirmou.
        Ele riu desdenhoso e então lembrei porque estive com raiva. Levantei-me quase sutilmente, alisei o vestido como quem tenta se recompor e lhe disse em uma voz simples:
        - Então, meu caro Enzo, chegou a hora de me conhecer um pouco mais.
        Andei a passos firmes até o estábulo onde pedi que Guilherme, o meu fiel escudeiro, preparasse meu cavalo. Algoz o nome dele, negro e selvagem, imperioso tanto quanto a dona. Troquei-me também, vestindo algo mais próprio para o feito. Em pouco tempo estava montada, cavalgando para perto de Enzo que me esperava e ergueu uma sobrancelha ao me ver.
        - Está pronto? – perguntei-lhe e antes que ele ousasse responder bati levemente com o pé em Algoz e começamos a correr pelo pasto da fazenda.
        Enzo veio ao meu encalço, gritando para que parasse, que iria me machucar e tolices assim. Mas o vento em meu cabelo, o poder de decisão em minhas mãos, faziam meu corpo pulsar como se a própria centelha do início da vida estivesse em minhas entranhas. Não era para desafiá-lo ou prova-lo algo... Era pra sentir, saber que o mundo ao meu redor era pequeno perante aquele momento.
        Longe da casa grande, em um ponto que poucos iam, decidi parar e descer. Amarrei Algoz em uma árvore e o agradeci prontamente pela dedicação e carinho com o qual me levava. Algo me dizia que ele cuidava de mim, que era mais fácil ele se machucar do que eu naqueles momentos de imensa liberdade de compartilhamos.
        - Você está louca?! – Gritou-me Enzo enquanto vinha ao meu encontro, também tendo descido e amarrado o cavalo.
        - Nunca mais me desafie.
        - Se eu soubesse que era tão louca não teria desafiado mesmo não!
        Vendo-o parado a minha frente, com os olhos sobressaltado o cabelo meio assanhado, não tive outra reação a não ser me jogar nele. Caímos de forma desajustada, ele segurando-me pela cintura e aparando nossa queda.
        - Katarina! Aqui não é lugar para...
        E o calei com um beijo. O gosto tão bem conhecido, a forma tão entregue, em pouco tempo apreciei mais aqueles lábios que o próprio vento a me libertar. Afastei-me para encará-lo. Ele afagou-me o rosto e simplesmente fechei os olhos para senti-lo melhor.
        - Você é a criatura mais livre e intensa que já conheci, Katarina...
        Abri os olhos e mergulhei na profundidade com que me encarava. Sorri e lhe disse:
        - E você é minha mais bela liberdade, Enzo.

        E deitei-me no peito dele sentindo-o respirar.

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