Capítulo I: ... começa sem um beijo.
Fazia
muito Sol naquela tarde de quarta-feira. Eu estava sentada na varanda, me
balançando com o leque na mão, o vestido era pesado e dificultava minha
respiração. Foi quando ele chegou, vestido com algo azul claro e tendo o cabelo
loiro preso, cavalgando um alazão com um porte imponente e quase arrogante.
- Bom dia,
Katarina! – gritou-me ao se aproximar.
- Bom dia
Enzo.
- O Sol
está de matar, não é mesmo?
- Talvez.
- Ainda
está brava comigo, senhorita?
Olhei para
o outro lado. Na verdade minha raiva já havia passado, mas ele não precisaria
saber disso de prontidão.
- Desculpa
por ter lhe desafiado, jovem... Mas ainda duvido que consiga cavalgar tão bem
quanto vosso pai afirmou.
Ele riu
desdenhoso e então lembrei porque estive com raiva. Levantei-me quase
sutilmente, alisei o vestido como quem tenta se recompor e lhe disse em uma voz
simples:
- Então,
meu caro Enzo, chegou a hora de me conhecer um pouco mais.
Andei a
passos firmes até o estábulo onde pedi que Guilherme, o meu fiel escudeiro,
preparasse meu cavalo. Algoz o nome dele, negro e selvagem, imperioso tanto
quanto a dona. Troquei-me também, vestindo algo mais próprio para o feito. Em
pouco tempo estava montada, cavalgando para perto de Enzo que me esperava e ergueu
uma sobrancelha ao me ver.
- Está
pronto? – perguntei-lhe e antes que ele ousasse responder bati levemente com o
pé em Algoz e começamos a correr pelo pasto da fazenda.
Enzo veio
ao meu encalço, gritando para que parasse, que iria me machucar e tolices
assim. Mas o vento em meu cabelo, o poder de decisão em minhas mãos, faziam meu
corpo pulsar como se a própria centelha do início da vida estivesse em minhas
entranhas. Não era para desafiá-lo ou prova-lo algo... Era pra sentir, saber
que o mundo ao meu redor era pequeno perante aquele momento.
Longe da
casa grande, em um ponto que poucos iam, decidi parar e descer. Amarrei Algoz
em uma árvore e o agradeci prontamente pela dedicação e carinho com o qual me
levava. Algo me dizia que ele cuidava de mim, que era mais fácil ele se
machucar do que eu naqueles momentos de imensa liberdade de compartilhamos.
- Você
está louca?! – Gritou-me Enzo enquanto vinha ao meu encontro, também tendo
descido e amarrado o cavalo.
- Nunca
mais me desafie.
- Se eu
soubesse que era tão louca não teria desafiado mesmo não!
Vendo-o parado
a minha frente, com os olhos sobressaltado o cabelo meio assanhado, não tive
outra reação a não ser me jogar nele. Caímos de forma desajustada, ele
segurando-me pela cintura e aparando nossa queda.
-
Katarina! Aqui não é lugar para...
E o calei
com um beijo. O gosto tão bem conhecido, a forma tão entregue, em pouco tempo
apreciei mais aqueles lábios que o próprio vento a me libertar. Afastei-me para
encará-lo. Ele afagou-me o rosto e simplesmente fechei os olhos para senti-lo
melhor.
- Você é a
criatura mais livre e intensa que já conheci, Katarina...
Abri os
olhos e mergulhei na profundidade com que me encarava. Sorri e lhe disse:
- E você é
minha mais bela liberdade, Enzo.
E deitei-me
no peito dele sentindo-o respirar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário