Capítulo I (anterior): https://teunomeeamor.blogspot.com.br/2017/01/afasta-de-mim-o-amor-1.html
Capítulo II O contato com
os mortos.
Um senhor muito simpático
me ergueu do chão e me deu água, notando meu estado alarmado. Não pude fazer
muita coisa, apenas beber e sair de lá assim que me recompus minimamente. Desde
os 13 anos faço o mesmo ritual, tenho uma vida bem sucedida, carro, casa, e o
mais importante: não amo ninguém. Não me apaixono. Não tem nenhum homem ou
mulher que mande na minha vida. E aí me vem uma dessas.
Cheguei amuada no
apartamento. Minha amiga veio tentar me consolar, perguntando o que havia dado
de errado e eu lhe contei da tragédia. A desgraçada riu da minha cara e teve a
ousadia de dizer que a cartomante dela estava certa e que esse era o ano em que
eu iria me casar. Joguei-lhe uma almofada na cara e me tranquei no quarto.
O que fazer? Desde
adolescente aquela era minha certeza que tudo iria como eu planejei. Tudo
sempre ficaria bem desde que eu fizesse aquela pequena e inofensiva simpatia.
Quando vovó faleceu, dois anos atrás, quase compro a casa para que ninguém
fizesse o que fizeram, mas desisti porque o terreno era ruim e ninguém iria
comprar uma casa tão velha tão cedo. Decidi que juntaria um dinheiro a mais e
compraria a casa, reformaria, iria morar lá... Sei lá. Aí vendem e...
“Pera. Vovó faleceu. Foi
ela quem me ensinou a cuidar de todo esse bafafá espiritual... Então... Talvez
ela tenha uma solução!”
Levantei-me de supetão,
sai do quarto e corri para o carro. Não sem antes arrastar minha amiga - que se
chama Maria por sinal – comigo. Lá expliquei o plano e o que faríamos e além de
ser taxada como psicótica e neurótica ao mesmo tempo, fui obrigada a prometer
que não iria leva-la para dentro do centro espírita, pois ela tinha muito medo
“dessas coisas” (palavras dela).
Conheci aquele centro
espírita com 18 anos, um namorado que achava que eu estava possuída por alguma
entidade demoníaca e me levou para lá. Na cabeça dele esse era o único motivo
plausível para que eu não o amasse. Tentaram de tudo, fizeram várias orações, e
obviamente nada surtiu efeito. Terminei o namoro. Só estava com ele por ser
cômodo.
Logo na recepção duas
mulheres me saudaram. Puxei minha amiga comigo, e inventei uma história caótica
sobre a minha avó falecida estar presa na terra e sonhos mirabolantes que tive
com ela em que me dizia precisar falar comigo urgentemente. Sim, minto mesmo
quando quero algo, nunca disse que sou boazinha.
Fui levada a um local mais
reservado. Um homem de cabelos brancos me atendeu, junto a duas outras mulheres
e um rapaz que parecia ter metade da minha idade. O homem se identificou como o
dono do centro espírita.
- Olá, eu...
- Eu já fui informado
sobre o seu caso, menina – ele sorriu ternamente e sentou-se numa mesa, apontando
que eu sentasse a frente dele.
- Eu realmente preciso
falar com a minha avó e...
- Você sabe... Não é assim
que nós funcionamos. Mas no seu caso, bem, meus guias espirituais já haviam me
avisado sobre a sua vinda.
- Verdade? E o que eles
disseram? – fiquei verdadeiramente intrigada.
- Tudo. Inclusive que você
mentiria descaradamente.
Engasguei.
- Mas tudo bem – ele
continuou com um grande sorriso – Sua avó lhe mandou esse recado.
E me entregou uma carta.
Abri e meus olhos encheram momentaneamente de lágrimas, porque um cheiro
incrível de alecrim me invadiu. Mas as lágrimas logo sumiram assim que eu vi o
que estava escrito:
“Como tu faz um pedido
assim pra Nossa Senhora debaixo do meu nariz?! Quando tu subir aqui vai levar
umas boas de umas palmadas pra aprender. Agora te vira, que eu não vou te
ajudar nessa não. Ah! Coma mais, você tá muito magrinha. E se exercite. E puxe
a orelha da sua mãe, esse novo marido dela não presta. E pare de fugir...
Menina levada. Ainda usa o batom vermelho desse dia?”
Não sabia se chorava ou se
ficava com muita raiva por não ter nem sequer uma ajuda. Agradeci a eles e saí
da sala, respirei fundo tentando pensar no que fazer. Devia ter outra forma...
Algo que eu não estivesse prestado atenção.
- Psiu.
Ouvi o rapaz que estava na
sala me chamar. Fui até ele e baixinho ele me disse:
- Eu conheço alguém que
pode ajudar.
Sorri. Era a ele que eu
não estava dando atenção.
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